Vou voltar, meu país, eu vou voltar

Eu não parto por amor à aventura

Vou embora porque tenho que salvar

Os meus filhos duma morte prematura

Vão, aqui comigo, aqueles que amanhã

Novamente, te hão-de guiar à glória

Tu sabes que esta, nossa, luta não é vã

Tarde ou cedo vai levar-nos à victória

Das cinzas te erguerás minha rainha

Porque a força da razão há-de ajudar

A fera horrenda que hoje te espesinha

Do seu próprio veneno há-de tragar

E então eu voltarei para te abraçar

E ao meu herói que ficou a combater

Porque esta vida não se fez para matar

Nem tão pouco para, tão cedo, morrer

Maria Letras, UK

03.03.2022

Soa na alma, estremece e arrepia

É a hora onde apenas conta a sorte

Onde o sangue gela mais que a neve fria

Parece, agora, a cidade estar deserta

Fica suspensa a sua respiração

É o som dos bombardeios que a desperta

Que acelera o bater do coração  

Nas entranhas da terra há pares de olhos

Muito abertos mas sem nada poder ver

É por isso que muito mais do que os escolhos

Os sons marcam mais que ferros a arder  

Neste cenário ninguém quer perder o norte

Manter a mente sã é o desafio 

Para, depois de se enganar a morte

Deixar fluir a vida como um rio 

Maria Letras, UK

04.03.2022    

Há gente que sofre tanto

Sem fazer mal a ninguém 

Gente de esperança perdida

Entre sofrimento e pranto

Que espera o que nunca vem

Outros há que tendo tudo

Não se dão por safeitos

Talvez por terem demais  

Nos seus tronos de veludo

Julgando-se  tão perfeitos

São piores do que animais

Assassinatos em massa

Sem que nunca seja dada

A resposta necessária

E perante o que se passa

Está toda a gente abalada

Com a matança diária

Por favor tu não te esqueças

Olha p'ra baixo meu Deus

São rios de sangue que correm

Venho pedir-te que impeças

Pois todos são filhos teus

Os que matam e os que morrem

Maria Letras, UK

06.03.2022

(Escrito para o meu amigo Américo cantar no 

Fado João Maria dos Anjos, sextilhas)

Por não poderem ter paz

Salvam a vida da guerra

Deixando a vida p'ra trás

Gente que foge apressada

Antes que possa ser tarde

Consigo não trazem nada

Só no peito a dor que arde

Rolam lágrimas de sangue

Nessa terra, triste sorte

São as mãos sujas do gangue

Que por lá espalham a morte

Gente de bom coração

Vai chorando de impotência

Não deixa p'ra trás o cão

Abandonado à violência

Gravado em sua memória

Fica o horror destes dias

Mas que aqui se cumpra a história

De David e de Golias

Maria Letras, UK

07.03.2022

(Escrito para o meu bem amado Jorge Miguel cantar no 

Fado Menor)