AS PALAVRAS QUE ERAM MINHAS
Maria Letras sopa-de-letras
Atirei as palavras p'rá vala comum
Poderia muito bem soltá-las ao vento
Para que o vento no seu desalento
As fizesse voar p'ra lugar nenhum
Poderia escrevê-las secretamente
Num diário com chave e com cadeado
Arrumar o diário muito bem arrumado
E enterrar a chave num gesto demente
Poderia oferecê-las à primeira pessoa
Que passasse, só. pela minha janela
Como se elas fossem chama de vela
Dando luz ao caminho de quem anda à toa
Palavras de amor que fossem carícias
Num rosto marcado p'la desilusão
Levando aconchego a um coração
Ternura e carinho livres de malícias
Poderia guardá-las no fundo de mim
Qual velho avarento escondendo o dinheiro
Ou então espalhá-las pelo mundo inteiro
Em doses gigantes de alegria sem fim
Palavras que doem não gosto não quero
São pedras quebrando vidros de janela
São como a nortada que a alma nos gela
Sem haver fogueira que derreta o gelo
Mil e uma coisas poderia ter feito
Com as palavras que afinal eram minhas
Mas arranquei-as como a ervas daninhas
Estão melhor na vala do que no meu peito
As palavras nascem do pensamento
O pensamento nasce da realidade
Era bom que o vento levasse a saudade
Já que... palavras leva-as o vento
Maria Letras,UK
10.02.2021