O FADO E O CANTE
Maria Letras sopa-de-letras
No meu bairro pobrezinho
De ruas de terra batida
Sem ter luxo nem vaidade
Havia em cada vizinho
Um amigo para a vida
Com respeito e lealdade
Casas baixinhas caiadas
Chaminés lareira acesa
Eram o nosso conforto
Ao serão as gargalhadas
São já hoje concerteza
Cenas dum passado morto
No verão, grande calor
Que as casas acumulavam
Entre a parede branquinha
Depois do sol se pôr
Os vizinhos se juntavam
À porta pela fresquinha
Ali se desenrolavam
Histórias mirabolantes
De bruxas e do lobisomem
E os garotos ansiavam
Por esses contos vibrantes
Que no tempo se consomem
Lá muito longe Lisboa
Cada bairro tão ufano
Tão orgulhosa do fado
Mas no meu bairro o que soa
É o cante alentejano
Por todos nós entoado
Tanto o fado como o cante
São arte são tradição
Património mundial
E eu sinto mesmo distante
Brilhar no meu coração
Essas paredes de cal
Maria Letras, UK
29.01.2021