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POETA É O POVO

POESIA

POETA É O POVO

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Seven Seas Radio
16
Mai20

PEQUENOS NADAS


Maria Letras sopa-de-letras

Fui a planta selvagem

Como ainda hoje o sou

Jamais me faltou coragem

Nem o vento me abalou

 

Tanta coisa me ensinaram

Mesmo aquilo que não quis

Por eu ser, me castigaram,

Tão dona do meu nariz

 

Ensinaram-me a falar

Sabendo que não podia

Meu pensamento soltar

Sem pensar no que dizia

 

Ensinaram-me a andar

Com afinados travões

Quem sabe pra não criar

Demasiadas ilusões

 

E hoje olhando pra trás

Eu vejo que nada sei

No seio das horas más

Tudo o que aprendi deixei

 

Tanta coisa me ensinaram

Porém ninguém me ensinou

Que as saudades que ficaram

Do meu irmão que abalou

 

São lágrimas camufladas

Brotando do meu coração

Lembrando os pequenos nadas

Que me davas meu irmão

 

Maria Letras , UK 15.05.2020

 

MANA MUNTA-ME O PÃO

 

Que saudade que tenho de ti. Passou um ano, mas no meu coração parece ter passado uma eternidade.

Não foste perfeito, mas foste um bom homem. Se alguma vez fizeste mal a alguém foram, apenas os efeitos colaterais do mal que fazias a ti próprio no caminho que trilhavas em busca da felicidade. Na busca de seres amado.

Tu amavas, amavas a todos que te rodeavam. Gostavas da harmonia, da paz.

Organizar encontros de família e de amigos era para ti uma imensa alegria.

As longas conversas em que toda a gente gostava de te ouvir. Porque tu sabias falar, tu eras uma enciclopédia com pernas. Não me esqueço do teste de cultura geral que fizeste ao Jorge no dia em que vos apresentei. Encaminhaste a conversa para lhe fazeres uma pergunta que consideravas de nível elevado, e lá estavas tu a perguntar-lhe como se chamava a filha de Maomé. O Jorge respondeu de imediato e tu?

Tu mano, exultaste de alegria, porque entendeste que tinhas ali alguém com quem podias falar, alguém ao teu nível.

Esse era o teu grande problema, tinhas dificuldade em encontrar pessoas com quem pudesses extravasar as tuas ideias e dar uso aos teus conhecimentos.

Foi por isso que foste parar à América, porque pensaste que tinhas encontrado alguém com um QI semelhante ao teu. Foi por isso que abandonaste a escola, porque querias muito mais do que eles tinham para te ensinar. Pois se tu com três anos de idade ias assistir por tua livre vontade às minhas aulas da quarta classe lá na escola do nosso bairro, e sabias dizer os nomes dos países todos cujas bandeiras preenchiam a contra capa do meu livro de geografia. As pessoas ficavam boquiabertas. Como é que depois foste abandonar a escola?!

Pois é mano, o mundo em que viveste sempre te foi pequeno, e de certa forma, adverso e hostil.

Quando vivias na Polónia e no verão vinhas para Londres para trabalhar, eu adorava as conversas infindas. Às vezes dizias e eu concordava contigo:

-Mana o nosso Zé não conheceu os mesmos pais que nós conhecemos.

Dizias isto porque com o Zé os pais eram menos rigorosos, mais condescendentes, mas isso tinha várias razões de ser. Uma delas era pela idade, os pais já eram mais velhos, outra porque viviam no estrangeiro o que lhes aumentava o sentido de protecção, e depois também porque tinham melhores condições de vida, logo viviam mais felizes.

Quando nós éramos garotos, o pai trabalhava duro e de sol a sol, e a mãe passava o tempo atrás daqueles dois balcões da mercearia e da padaria, sem ter tempo para nós.

Dessa fase guardo lembranças que me enternecem como , por exemplo, quando eu andava a brincar na rua com as minhas amigas e tu vinhas e andavas atrás de mim a choramingar :

- Mana ….munta-me o pão…

Naquela época, pelo menos lá na nossa área as pessoas diziam “ untar o pão com manteiga ou com banha “ mas tu não dizias untar, dizias muntar.

Talvez fosse… vem me untar o pão, mas como tu dizias era... mana munta-me o pão. E eu, um bocado contrariada lá parava a brincadeira e lá ia muntar-te o pão.

Quantas vezes nos rimos por causa desta e de outras histórias.

Onde andarás tu agora meu irmão ?!

Ontem fui lá, senti uma enorme necessidade de lá ir, como se pudesse ver-te, como se pudesse abraçar-te.

Mas de ti...apenas aquela triste placa com o teu nome, nada mais.

Faz amanhã um ano que partiste.

Quanta saudade…

 

Maria Letras, UK 15.05.2020

Chico Letras.jpg

 

 

 

 

 

11
Mai20

ALGUNS POETAS QUE VENERO


Maria Letras sopa-de-letras

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Quem me dera ser o Aleixo

Deixando à sua passagem

Este Livro Que Vos Deixo

Prova de grande coragem

De profissão cauteleiro

Apregoando a verdade

O que faltava em dinheiro

Sobrava em dignidade

 

Um pouco de Florbela

Quem dera pudesse ter

Ver na flor mais singela

Um poema por nascer

Viver sempre cada dia

Num tempo fora de mim

Envolta em melancolia

Até ao chegar do fim

 

Poderia ter de Pessoa

O ar sério e misterioso

Um cheirinho de Lisboa

Da Brasileira, seu pouso

Contar estranhos dilemas

Da História de Portugal

Mas fazê-lo em poemas

De rigor transcendental

 

De Vinicius de Moraes

Ter a arte e a mestria

Dos poemas colossais

Que ele sempre escrevia

Descrever o sentimento

Dar às palavras ardor

E ter, enfim, o talento

Do poeta do amor.

 

Maria Letras, UK 10.05.2020

 
07
Mai20

DOIEM-ME AS LEMBRANÇAS


Maria Letras sopa-de-letras

 

gente-feliz.jpg

 

Tempos suaves
De risos e gargalhadas
Tal como as aves
Rasgavamos madrugadas
E sem pudor
Desnudavamos as almas
Abrindo em flor
As noites mornas e calmas
A harmonia
De tudo o que se encaixava
Era alegria
Que crescia e se espalhava
E o coração
Palpitava galhofeiro
E na nossa mão
Nem a sombra de dinheiro
Tinhamos nada
E eramos donos do mundo
Qual mirada
Do mais nobre vagabundo
E sem saber
Que um dia tudo passava
Fomos perder
Esse infinito que brilhava
Melancolia
Agora nesta quietude
È a agonia
Da velhinha juventude

 Maria Letras, UK 07.05.2020

03
Mai20

MARIA PIA DE SABOIA


Maria Letras sopa-de-letras

Maria_Pia_de_Saboia_-_1879.jpg

 

Mataram-lhe filho e neto
Em paga da sua bondade
Sem se lembrarem por certo
Das obras de caridade

O outro filho partiu
Para longe se exilar
E o neto também fugiu
E quiseram-na levar

Com eles não quis seguir
Quis voltar ao seu país
Já que tinha que partir
Iria onde sempre quis

Áquela terra natal
Que sem ter opinião
Trocara por Portugal
A bem da sua Nação

Do Palácio de Turim
À corte de Portugal
Não se adivinhava o fim
Que ela teria afinal

Aos quinze anos rainha
Morreu aos sessenta e três
Mal sabia quando vinha
Que voltaria de vez

Quarenta e oito anos
Vividos em terra alheia
Tal a dimensão dos danos
Que a cabeça já vareia

Momentos antes da morte
Bem perto do seu final
Pede a rainha consorte
Que a virem p'ra Portugal

Maria Letras, UK 02.05.2020

 

 

 

 

 

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