DESEJOS CORREM NO RIO
Maria Letras sopa-de-letras
O Tejo leva nas águas
Os desejos de Lisboa
P’ra lá da “Boca da Barra”.
E a cidade chora mágoas
P’los olhos da Madragoa
Soluçadas à guitarra
Sobressaltam-se as colinas
Escurecem os terraços
Ao som dum plangente fado,
Cala-se a voz das varinas
Cessam no Terreiro os passos
Ardem sonhos no Chiado .
Mas Lisboa é como é, gosta do rio,
Colina de Santo André,
Graça e Rossio,
Relíquias de São Vicente,
missa na Sé,
Feira da Ladra ,I
ntendente, Cais do Sodré.
Voltam no voo das gaivotas
Os desejos de Lisboa,
Mudando o rumo à cidade,
Voltam os barcos às docas,
Uma varina apregoa:
_”Quem quer molhos de saudade ?!...
E eu gosto de a ver feliz
distraída dia-a-dia
no bulício da Ribeira,
Cingida ao Martim Moniz,
Entre a velha Mouraria
E a Praça da Figueira
Mas Lisboa é mesmo assim,
gosta de Alfama .
Namora em cada jardim,
Campo Santana
Sobe a costa do Castelo,
chão de Basalto
Laço branco no cabelo,
no Bairro Alto .
Junho, 1989
Joaquim Pires Isqueiro