LÁ PELAS OITO DA TARDE
Maria Letras sopa-de-letras
Quando eu morrer,
Quero que seja a esta hora.
`A hora em que o sol beija a terra.
`A hora em que o dia,
Lentamente, se entrega
Nos braços da noite.
Quero que a minha alma,
Finalmente,
Possa ter total liberdade,
Para desfrutar da noite.
Quero que, assim,
Tudo em mim seja intocável.
Que as acusações maldosas
Não me atinjam.
A minha alma voará,
Levada pelos ventos,
Como a pena branca,
Duma ave pura, imaculada.
Partirá da ilha,
Voará sobre o Canal.
Os ventos de França,
E de Espanha a levarão a Portugal.
Atravessará a fronteira
`A hora em que,
Para a ultima refeição do dia,
As familias se reunem
`A volta da mesa.
Chegada a Lisboa,
Quando a Vela Latina
Abrir as portas
Lá estaremos
Para um pezinho de dança.
Passearemos pelas docas,
Copo aqui, copo acolá.
Mais tarde,
No Senhor Vinho
Ouviremos um fadinho.
Visitaremos os bairros,
subiremos ao Castelo.
`As tantas da madrugada,
Iremos ate ao Chile,
Para a bolinha de Berlim.
E acabaremos a noite,
Exaustas mas satisfeitas,
Lá pelas seis da manhã,
Entre o peixe e a hortaliça,
Cercadas de palavrões,
No velho Cacau da Ribeira.
Pena, mas que pena...
Nao pudemos ir `a feira,
Meia duzia de aldrabões
Já acabaram com ela.
Quando, enfim,
O novo dia despontar,
Espalhada na areia da Torrinha,
Minha alma saboreará
O doce marujar
E o toque meigo
Das águas.
Então o mar,
Senhor todo poderoso,
Há-de levá-la consigo,
E, quem sabe,
Guardá-la, cioso,
Ate ao fim dos tempos !
BL 24.05.2016